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PLURAL: os textos de Suelen Aires Gonçalves e Silvana Maldaner

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Quando ocupar é um direito

Suelen Aires Gonçalves
Socióloga e professora universitária


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A luta vem desde 7 de Dezembro de 1991, data do início da ocupação da antiga fazenda Santa Marta, hoje, bairro Nova Santa Marta. O espaço foi construído por muitos homens e mulheres que fizeram a história dessa ocupação e da cidade. Minha memória afetiva com esse chão dá-se pela minha experiência de moradora da ocupação desde 1995. Minha família reside na Vila 7 de Dezembro e, desse espaço que chamamos de "coletividade", é que vos falo. Trata-se de um espaço de muitas lutas, sonhos e conquistas.

O início da ocupação é um marco das organização do Movimento Nacional de Luta Pela Moradia (MNLM) e suas estratégias de ocupação de terras ociosas do Estado. Como bem recordo das falas nas reuniões desde a minha infância, essa terra era uma fazenda que foi desapropriada de seus donos por dividas com o Estado. E dessa terra sem cumprir com sua função social é que a ocupação foi planejada. Tal ação foi articulada pelos movimentos sociais com apoio das comunidades vizinhas e nos espaços da Igreja São João Evangelista na Vila Caramelo, que foi um local sagrado de articulação e planejamento. O início deu-se com algumas famílias (36) e, nas primeiras 24h, somaram-se mais 300 e, logo nos primeiros meses, a ocupação foi ganhando forma. Hoje, contamos com mais de 4,2 mil lotes e uma média de 25 mil moradoras(es).

Uma luta vencida por etapas

A luta pelo direito à moradia na ocupação da Nova Santa Marta teve inúmeras fases. Recordo das lutas por acesso à educação com a criação das escolas existentes na comunidade, do acesso a saúde pública com o programa de Agentes Comunitárias de Saúde (ACS), que, após, expandiu-se para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e da pauta histórica sobre o uso das praças e parques para a nossas juventudes. A titulação da terra, que era do Estado, foi repassada ao município com muita luta dos movimentos de moradia no ano de 2009. E uma luta muito importante da década passada foi: o acesso a infraestrutura para a comunidade. Durante o Governo Lula (2007), tivemos a oportunidade de acessar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que previa recursos de R$ 35 milhões para construção de infraestrutura de ruas, saneamento básico, acesso a água e a regularização fundiária, ou seja, a parte final do projeto era a tão sonhada titulação da terra para os moradores(as).

A caminhada continua

A regularização fundiária foi uma luta feita pelas organizações locais. É fruto e lutas históricas, e essa história precisa ser contada. A notícia apresentada pelo governo local na última semana de "Concessão de Direito Real de Uso - CDRU" não é a titulação final que foi construída pelo PAC. Ou seja, a regularização fundiária ainda não foi concluída pelos governos locais. Desde o início das obras do PAC, passaram-se 12 anos e 3 governos municipais. Nas duas gestões de Cesar Schirmer (MDB) e na atual gestão municipal de Jorge Pozzobom (PSDB) não foi concluída a etapa final do PAC, com a titulação oficial da terra aos moradores. A luta continua. A espera de 28 anos ainda existe pelo direito da moradia e pela finalização das obras do PAC. A nossa luta é histórica e temos uma longa caminhada na conquista semeada por muitos lutadores sociais que sonharam pelo direito à moradia e dignidade na Nova Santa Marta.

Foro Especializado

Silvana Maldaner
Editora de revista


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Mais de 55 mil pessoas tem Foro Especializado no Brasil. É uma prerrogativa concedida ao cargo político ocupado. Um julgamento especial. Um segredo de Estado. Inviolável.

Pois fico imaginando, se um deputado federal, um ministro ou senador, considerados representantes de uma população, não seriam eles os primeiros a darem o exemplo do cumprimento das leis? E, sendo pessoas exemplares, porque haveria de ter foro especial para julgamento de seus crimes?

Na maioria dos países civilizados, como Alemanha, EUA ou Chile, não há foro especial. Os políticos são julgados e condenados pela Lei que contempla todos os cidadãos. É o mínimo da decência para ocupar um cargo público. Inclusive, a ficha limpa e o passado de um candidato devem ser amplamente estudados antes de uma eleição.

O nosso sistema jurídico é blindado demais, e ministros e senadores são julgados por eles mesmos. Nunca houve afastamento de nenhum ministro e todos os processos foram arquivados pelos senadores. Da mesma forma que percebemos que as decisões são conforme os interesses seguindo a máxima: aos inimigos, o rigor da Lei. Não importa qual o crime e, sim, quem cometeu.

Não há salvador da pátria

No mundo das ideias, tudo é lindo. Basta falar as palavras certas para um povo analfabeto funcional, com frases de efeito, rimas, jingles eletrizantes, fotos bem elaboradas e o discurso da defesa de minorias. O abraço e o aperto de mão são posados. Agora que começamos o período de campanha eleitoral, tenho ficado impressionada das caras e bocas, das fotinhos bem tratadas, no altruísmo genuíno. Nas campanhas, o mais importante é fazer marketing com a doação da boa vontade alheia.

Não sei quantas décadas levaremos para amadurecer neste aspecto da ética e da corrupção. Parece estar nas entranhas deste povo a mania de levar vantagem, vangloriar-se das boas ações, apropriar-se de benefícios, obter os louros do trabalho dos outros.

Um exemplo da corrupção é o pacote emergencial estabelecido pelo Governo federal para o auxílio de R$ 600,00 para os trabalhadores que estavam com seus serviços suspensos. Investigação aponta que mais de 620 mil pessoas se utilizaram deste benefício de forma fraudulenta. Não há governo que resolva uma população sem escrúpulos. Não há salvador da pátria. E, talvez, este seja o problema. Muitos esperam um super herói, um ídolo para reverenciar e brigar por ele, com superpoderes de resolver a malandragem de bilhões de pessoas.

Que o gigante acorde

Então, só nos resta rezar para o Chapolin Colorado fazer com que o gigante acorde e comece a ler e entender de política, pois, quanto mais afastados, menos conhecedores das leis, dos direitos e das arbitrariedades utilizadas em busca do eterno poder, mais fácil será de iludir, enganar e manipular. A população não pode aceitar uma centena de partidos e siglas que só pretendem enganar o povo, pois, na hora da governança, estão todos coligados em prol do poder.

Acho que chega, né? Este ano será um divisor de águas na vida de muitas pessoas, e, em especial, dos brasileiros que estão cansados de tanta canalhice, velhos discursos e artimanhas políticas.

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